Ele foi pisando fundo no freio de seu velho FNM até que o caminhão soltasse um último rugido e descansasse a carcaça na beira da estrada empoeirada.
Desceu do FNM e soltou todos os seus 122 quilos sobre a calçada de pedra defronte a um estabelecimento com os dizeres: “Restaurante do Luizão – o melhor torresmo da região”.
Enquanto entrava foi tentando fechar um dos poucos botões que ainda restavam na camisa de tergal. O zíper da calça entreaberto deixava à mostra a cueca azul de listrinhas brancas- encardidas.
Foi sentar em uma das banquetas defronte ao balcão e pediu o prato do ano: arroz, feijão, torresmo, mandioca cozida e salada de tomate. Para completar, uma não muito gelada coca-cola- afinal estava tentando parar de beber, a cerveja aumentava muito a barriga.
Comeu tudo com voracidade enquanto assistia ao noticiário numa TV preto e branca: frio no sul, alta do dólar, intoxicação por refrigerante......-o torresmo engordurado ia deixando seu bigode com um brilho diferente- e, após o último gole de coca soltou um sonoro arroto: estava cheio!
De volta à estrada há algum tempo, sentiu necessidade de parar num posto de gasolina: soltava incessantes gases tóxicos que mal o deixavam respirar.
Novamente na estrada- o pequeno distúrbio intestinal já resolvido- liga o rádio para se distrair e ouve o locutor falando sobre as mesmas notícias de sempre: frio no sul, alta do dólar, intoxicação por refrigerante.......
Desliga o rádio. Sente o intestino querendo trabalhar de novo. Entra em outro posto. Corre ao banheiro. Sente o suor frio escorrer da testa.
E assim ele continua na estrada, ora parando em postos, ora não chegando a tempo em nenhum posto.
Algumas horas depois chega em casa. A esposa o recebe com desagrado perguntando:
- Mas que cheiro é este?
E ele, já correndo ao banheiro, grita de volta:
- Foi o torresmo! Foi o torresmo! Mande o moleque comprar uma coca-cola! Dizem que é bom para a digestão!
Elis Regina Fernandes Alves
Professora Mestre de Língua Inglesa e Literatura de Língua Inglesa
UFAM- IEAA- Humaitá
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