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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Reino de Jurupoca



No Reino de Jurupoca do Norte o rei Galinildo
faz de tudo pelo povo e o povo dá tudo para ele, é tão “tudo” que o povo nada tem. O reino inteiro não tem mais que três ruas e as pessoas sempre andam com a cabeça baixa.
Embora tudo pareça ruim o povo vive bem, come mandioca frita e cozida, peixe tem muito no rio e as crianças vão à escola, desistem quando chegam ao ensino médio, a maioria. Alguns vão embora, poucos voltam, e quando voltam chegam diferentes, falando alto insultando a ignorância dos demais, poucos voltam para ficar e resolvem explorar os irmãos.
Isolina Leão, mulher de Galinildo, o Gran Rei, resolveu ir à Inglaterra, ela quis ver pessoalmente e saber como é por lá, afinal seu reino tem inspiração no da Rainha Elizabeth. Linita Bombom, como é chamada pelo rei  solicitou tal viagem:
- Não posso Bombom, o povo tá lascado, e não agüenta mais nenhum tipo de peso.
- que peso Galinho! Vou até lá e trarei novidade, todo o povo há de gostar.
Enquanto sua esposa distraída foi arrumar as sobrancelhas o rei pediu conselhos a seu cronista:
- Meu Deus! Armifácio, meu cronista, dê-me um conselho, por favor!
- Gran Rei, o povo está deveras triste com a situação do reino, ninguém consegue crescer, só sua família, já se ouve alguns murmúrios de incontentes, inclusive entre seus leais soldados, que não recebem o soldo há uns seis meses.
- Não posso mais negar esta viagem a minha Bombom, você sabe como ela é, além do mais ela tá muito forte, anda praticando jiu jitsu e... Só Deus sabe o que me pode acontecer seu negar desta vez.
- Decidi! Vou deixar, seja o que Deus quiser!
Assim Isolina se preparou para sua grande viagem, isto custaria mais dois meses de salário dos soldados reais, mas tudo bem! Enquanto se arrumava, a rainha ia pensando no trajeto que faria, nas lojas que visitaria, nas pessoas que conheceria em todos os “rias” que o português permite.
No dia agendado ela seguiu acompanhada de sua mãe, dona Isolda e de Marconeide, única moradora da comunidade que aprendeu inglês na Lan House do Zé Tronco.
E lá foram elas, paramentadas de casacos de pele, e blusas de lã para resistir ao rigor do inverno inglês. No avião todas foram muito bem tratadas e colocaram fones de ouvido para assistir aos filmes que podiam ser escolhidos num simples toque. Marconeide pensou em seus patrícios que estavam num mundo perdido, sem oportunidades, sem chances de crescimento. Olhando para a tecnologia que a cercava, Neide sentiu que até mesmo seu nome, ridículo, foi fruto de ignorância de seus pais, por não conhecerem nada além dos limites de Jurupoca, Que tédio! Pensou, quase gritando com os seus pensamentos.
O piloto falou no equipamento de som do avião que estava próximo de a aterrissagem no Aeroporto internacional cidade de Londres (London - City International Airport) que fica distante vinte e quatro quilômetros de Londres ao descer sentiu o vento gelado do inverno inglês e um cinza que tomava conta de tudo, Neide perguntou à Rainha de Jurupoca qual seria sua primeira ,missão na terra do Big Bem, ela disse:
- Quero sair deste lugar frio e ir a um pube esquentar as turbinas, vamos!
- Rainha, nós primeiro devemos ir a um hotel, escolher um bom quarto e depois o resto.
- Apoiado – falou dona Isolda
                Imediatamente as três apanharam um taxi e foram para a região mais nobre de Londres, quando Neide interveio:
- Nós devemos nos instalar num hotel fora da área nobre, lá as diárias são muito caras!
- Apoiado – falou Isolda
- Mamãe, a senhora só sabe falar apoiado!
- Nós temos muito dinheiro, para quem mora em Jurupoca, mas por aqui a moeda é muito forte, a Libra Esterlina ainda é uma das mais fortes do mundo, corremos o risco de ficarmos aqui.
- Isso não vai acontecer, o governo britânico obriga gente como nós a comprar passagem de ida e volta.
- Certo, mas ninguém vive de vento.
- Apoiado – novamente interveio Isolda
- Tá bom já entendi a mensagem.
                Neide conversou com o motorista de taxi sobre um hotel não tão longe de tudo, mas que não custasse os olhos da cara, e foi atendida.
                Chegando ao hotel, ambas se instalaram, e procuraram acender o aquecedor, pois era frio em novembro. A fome trazida pelo frio e o cansaço da viagem fez com que todas quisessem comer algo o mais rápido que puderam. No próprio hotel elas seguiram para a sala de jantar, nada de especial carne de porco com ervilhas e cerveja na temperatura ambiente, Marconeide preferiu Coca Cola.
                Após o jantar elas foram aos seus quartos decidir aonde iam, já que a noite aproximava-se depressa, Neide novamente tomou a palavra e insistiu em que ficassem no hotel até o dia seguinte, pois dona Isolda já tinha mais de 60 anos e estava cansada.
- Já estou arrependida de ter lhe trazido!
Após esta última escaramuça, as três sortudas aproveitaram todo o tempo que tiveram. Foram ao Big Bem, visitaram o Palácio de Buckingham , conheceram Liverpool, a terra dos Beatles e deliciaram-se nos pubs de Londres.
Neide quis perguntar a hora em que a grande rainha iria ligar para seu marido para saber das notícias de sua terra, mas este dia nunca chegou, o deslumbre era tanto que nada valia mais a pena do que curtir cada momento mágico na terra da Rainha. Na ultima semana um valor adicional foi depositado na conta e  Isolina não iria desperdiçar, foi até a França e visitou os lugares óbvios, Louvre, Torre Eiffel, Arco do Trinfo e a champs Elysees.
Voltou rápido para Londres com sua duas companheiras e começou a preparação para a viagem de volta, com o coração alegre e o espírito renovado. No outro dia, já no caminho de volta ao aeroporto,  Neide novamente pediu para Isolina ligar para Jurupoca do Norte, para se assegurar que tudo estava bem, Mas a rainha  não quis, afinal “ o que de novo acontece naquele fim de mundo?”, pensou.
Ao entrarem no avião Marconeide sentiu um calafrio na alma, não quis compartilhar sua angústia com ninguém, teria que embarcar e voltar para sua realidade.
“Juro que saio daquela terra de ninguém” -  pensou
Depois de sete horas de viagem o momento de aterrissar chegou. O piloto disse ao auto-falante que o aeroporto de Jurupoca do Norte não poderia ser utilizado. Neide ficara apreensiva, Isolina...
_ Falei pro meu marido consertar aquela pista velha, mas ele só pensa em pagar os soldados!
O vôo terminou a mais de duzentos quilômetros de distância de Jurupoca. O dinheiro ainda dava para um taxi até a cidade natal. Alguma coisa parecia muito estranha, pessoas estavam vindo em sentido contrário, Isolina não quis perguntar o motivo.
Não agüentando mais a tormenta causada pela curiosidade, Neide quase que berrou:
- Pare agora!
- O que é isso minha filha, esta moça endoidou?
- Não mamãe, isto é curiosidade de pobre, viu qualquer coisa e pensa que o Apocalipse começou. Vai, vai, pergunte para aquele infeliz que vem vindo o que aconteceu?
- Desculpe madame, mas se me perguntassem eu mesmo responderia – disse o taxista.
- Então desembuche homem, fale logo, o que aconteceu?
- Eu não sou de lá, mas ouvi falar que o tal Rei Galinildo foi morto por seus soldados, os caras me disseram que deixaram ele com fome por três dias e depois passaram o fogo nele, descobriram que a mulher dele estava na Inglaterra com a sogra dele, enquanto os soldados já tinham seis meses na casa sem receber.
Neste momento a mãe da rainha teve um chilique e morreu dentro do carro, Neide ficou preocupada. Por mais que não gostasse da rainha, sua morte não era um desejo. O motorista, olhando no retrovisor notou que a senhora já não fazia qualquer movimento.
Ao saber o verdadeiro motivo de toda aquela confusão a “Rainha” começou a preocupar-se, sua vida estava nas mãos da pessoa que lhe serviu de empregada, se Neide abrisse o bico ela estaria morta. Sua cabeça fazia indagações antes inimagináveis, como seria viver naquele mundo sem ninguém conhecido? A rainha bem, como todos os que faziam parte da monarquia tinham suas cabeças a prêmio, porém poucas pessoas sabiam como era fisionomia dela de verdade, o rei evitava sair com ela em público, por achá-la bonita e também para preservar-lhe a vida.
A partir de um dado momento a Rainha sentiu-se feliz por sua mãe não ter resistido, dia-a-dia sua vida foi ficando cada vez mais perto do que era o inferno, ela vivia escondida numa choupana  na mata  e  todas as tardes sua intérprete vinha lhe trazer o que comer, que por sinal cada vez diminuía, a desculpa que era dada vinha do fato de o novo soberano não estar pagando seus serviçais, incluindo os soldados. Este fato em particular fez a rainha lembrar-se de sua época de reinado. Se não tivesse viajado teria sobrado dinheiro para pagar os soldados, talvez nem revolta houvesse, mas não! Ela tinha que sucumbir ao desejo de conhecer o maior dos reinos da terra.
Os dias se passaram e uma pessoa,”a  Gumercinda “,olhou bem firme para aquela mulher que se distinguia no fim da tarde e falou:
- Rainha!
- Falou comigo?
- Sim, senhora, Conheço-te muito bem, és a rainha. O que fazes por aqui? Pensei que estavas morta!
-Acho que você se enganou.
Isolina agora estava temerosa, com a situação do reino aquela mulher iria chamar os guardas para receber a recompensa que dava mantimento para uns bons quatro meses. Mas a surpresa maior ainda estava por vir. Numa tarde ensolarada do fim do outono, a Neide veio correndo e gritou!
- Fuja! Fuja!
- já sabendo do que poderia tratar-se, a Isolina saiu às pressas, mas não teve jeito, foi alcançada por um soldado do exercito inimigo que a levou pra a masmorra onde pouco comia e não podia ver a luz do sol.
Depois de passar um mês dentro da prisão Isolina foi julgada, ninguém estava a seu lado para defendê-la e como seu marido ela foi condenada a morte por decapitação. No outro dia, enquanto o carrasco preparava  a guilhotina ela pensava em tudo o que fez e em tudo o que não devia fazer.
A leitura de seus crimes foi feita em voz alta e o povo tinha um misto de comemoração e pesar pela morte da grande rainha usurpadora.
Às quatro horas da a tarde a voz no oficial de justiça gritou podem executá-la a corda foi cortada com força e a guilhotina caiu e não perdoou a monarca gastadeira.
- Lina, Lina acorda filha, você tem que ir a escola!


História escrita por Haroldo Ribeiro




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