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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A grande virada



                Meu nome é Jeremias
, já ouvi atentamente as histórias de vocês e agora vou contar a minha. Seu Armiro minhas desculpa, mas a que eu vou contar é a mais complicada e assustadora de todas. Em cima da mesa estava o prêmio, um frango assado quentinho, todos já tinham contado só faltava eu, seria difícil vencer os concorrentes. Quem teve a idéia de fazer este campeonato foi o Seu Milton, dono da bodega, até hoje não contei esta história para mais ninguém.
            Olhei bem na direção de todos e comecei:
            - A história que vou contar não é de minha pessoa, aconteceu no fim dos anos noventa, um homem, pai de família, gente de bem mesmo! Comprou um caminhão depois de trabalhar por mais de dez anos “pros” outros, ele conseguiu um caminhão Mercedes Bens com vinte anos de uso e já havia feito três reformas no bicho, duas grandes e uma que só foi uma retocada. Amâncio era de Almenara, no norte de Minas, seu irmão Aderbal tinha um caminhão bem melhor, era quase novo devia ter uns cinco anos ele já estava para comprar um novinho em folha. A mulher do Amâncio, Dona Celeste, vivia criticando seu marido pelo fato de o irmão dele ter um caminhão melhor e conseguir melhores fretes para dar uma vida mais abastada para a mulher.
            Enquanto estava falando notei que todos a mesa já me observavam e prestavam atenção a tudo o que eu falava sem despregarem os olhos. Assim continuei...
            - Embora sua mulher vivesse enchendo o saco, Amâncio não conseguia ter raiva do irmão, menor e mais rico, ele simplesmente achava que o mais novo merecia cada centavo que ganhava. Um dia Aderbal disse para Amâncio:
            - Hei mano, temos um frete para os lados do norte do país, “da pra gente” levar um carrego de farinha ração para peixes e voltar de lá com madeira e tábuas. Pode ficar frio que é legal! - Falou Aderbal
            - Vamos embora! – Respondeu Amâncio
            - Os dois se prepararam para a viagem e foram, primeiro passaram na distribuidora de ração em Belo Horizonte e seguiram o caminho, eles viajariam uma noite e mais um dia e estariam lá, se tudo desse certo. A viagem não poderia ter sido melhor e eles chegaram próximos a Bolívia e deixaram a carga em Rio Branco no final da tarde. Para voltarem com a madeira precisariam seguir alguns quilômetros rumo à divisa com a Bolívia, só lá pousariam os dois.
            Eles estavam muito cansados e foram direto para um hotel, o Casilas, Amâncio resolveu dar um pulo na cidade e lá conheceu um homem meio esquisito chamado Juan Alonso que perguntou se ele era dono de um caminhão que ele viu chegar, ele afirmou que sim, ele então passou a dizer que tinha uma oportunidade de ouro para ele, era coisa rápida dizia, sem complicações:
            - Do que se trata? - perguntou Amâncio
            - Eis uma mercadoria valiosa que te darás 50 mil reais
            Ele balançou e pensou na oferta.
            O motorista que se achava um azarado não resistiu a tentadora oferta, mas não podia dar uma resposta assim, de supetão! Pediu um dia para pensar, Juan disse que daria só um dia, nada mais... Tinha mais gente interessada na encomenda. 50 mil reais não são encontrados facilmente por aí, jogados numa lata de lixo. Ele voltou no outro dia e trouxe uma resposta positiva nos lábios.
            Juan disse:
            - Eu “tengo” uma “sugestion “para que tu te vá bem para “Sãn Pablo”, coloques tu carga em “lo” pneu, cabe tudo e ninguém “descofiará de tu!”
            Sabendo que era droga, e da pesada, meu amigo não vacilou, procurou fazer da melhor forma possível, ele sabia que ao chegar a São Paulo e receber a grana tudo iria mudar. Quando falei isto na bodega do Tonho, um tal de Zequinha teve vontade de ir ao banheiro, falou para eu parar a história um pouco que ele não demoraria a voltar, fiz o que ele me mandou e voltei a narrativa.
            Amâncio já estava preparado para fazer sua viagem, seu irmão Aderbal também, num súbito, o caminhoneiro, que achava ser um azarado fez um pedido ao irmão:
- Dedinha? (Ele costumava chamá-lo desta forma carinhosa)
- Fala mano!
-  Eu to com um pneu meio careca no meu caminhão, e tu “sabe”, né? que os”home,” pega no pé de quem tem carro velho como o meu, pega esse trem põe como estepe do teu e me arruma um melhorzinho pra “nóis segui” viagem.
            A resposta foi positiva, teve uns dois no bar que ainda perguntaram se era o pneu com a droga. Tenha santa paciência!
            Juan deu o endereço onde deveria ser entregue a mercadoria e os dois seguiram estrada a fora. Aderbal nem desconfiava que estivesse levando um produto que poderia destruir a sua vida, o cara era crente da Batista, cumpridor de seus deveres e jamais pensaria numa oferta daquelas, seu irmão, porém não resistiu ao canto forte da sereia maldita do dinheiro fácil. Fácil? Uma ova!
            Eles rodaram o dia inteiro e quando chegaram num posto policial no Mato Grosso do Sul um policial fez sinal para o Amâncio parar, dava para ele perceber a agitação:
Evandro, o policial responsável pelo posto disse:
- É ele, o caminhão é este!
- Será? – disse De Aguiar
- É este mesmo, os caras me deram as coordenadas – confirmou Marcos, o plantonista
            Eles reviraram o caminhão inteiro, parecia que tinham a certeza do que estavam fazendo. Alguns dizem que os caras que enviam a droga, dão a ficha dos “laranjas”, gente contratada para ser pega como troféu, porém a carga grande mesmo passa batida, sem ninguém dar conta disso.
            Depois de passar quase duas horas no posto Amâncio seguiu viagem, os caras nem sequer pediram desculpas, ele ficou branco de medo, pensou na possibilidade de ter sido pego, sentiu um gelo na alma, mas a vida continua, fé em Deus e pé na tábua!
            Aderbal ainda ligou para o irmão mais tarde para saber o que havia acontecido. Nesta hora Amâncio não mentiu e contou tudo o que aconteceu no posto policial. O irmão achou tudo um absurdo, tudo porque ele não dispunha de muito dinheiro, pensou ele. Que engano!
            Finalmente os dois chegaram ao destino final, Aderbal trocou o pneu com seu irmão. Prestes a ganhar 50 mil e sem que o Dedinha percebesse foi até o endereço combinado para receber o dinheiro. A rua era bem localizada, porém quase sem movimento, o calcamento era de paralelepípedo, bem antigo, ele chegou com o caminhão estacionou e perguntou pelo Madrugada, um negão de quase dois metros e bem gordo. Ele saiu da sua oficina de fachada palitando os dentes, ao seu lado tinha uma mulata contratada para ser mulher fácil, resumindo quenga! Os ouvintes deram risadas.
Madrugada abriu o pneu com a droga, provou se realmente era pura e deu uma boa gargalhada:
- Farinha pura. Da boa! Paga para ele!
            De dentro da oficina um dos funcionários da empresa de  fachada trouxe um pacote. Dentro dele 50 mil reais em dinheiro vivo foram dados a Amâncio. Ele tratou de sair o mais rápido que pode do local, antes Madrugada pediu seu telefone, ele deu um falso, suas pernas tremiam de medo, ele fazia de tudo para que ninguém percebesse o seu desconforto.
            Já longe do local e de volta para casa, e com a alegria de ter 50 mil a mais na carteira, o motorista resolveu fazer uma surpresa à sua mulher, ele iria chegar de carro quase novo, como o do seu irmão, ele deu seu caminhão e acrescentou mais 40 mil e pegando um muito melhor, da marca Volks. No caminho Amâncio pensava em como seria a cara de Celeste, sua esposa, quando ela visse o caminhão novo que ele estava levando.
            Quando estava chegando a sua terra querida, Amâncio sentiu um calafrio na espinha, não sabia o que era aquilo, mas não era algo de bom com certeza, mas preocupação pra quê, afinal eram 50 mil reais que se transformaram num caminhão melhor e em novas chances de subir na vida, como seu irmão. Celeste não era muito de perguntar as coisas para seu marido, tinha medo de ter uma resposta ruim, ela tinha a impressão de que toda mulher de caminhoneiro era traída pelo marido. No caso dela isto não chegava a ser uma verdade, mas mesmo assim este tipo de pensamento a perturbava com frequencia.
            O traficante ocasional chegou em casa e foi recebido como um herói por sua mulher, também por seus filhos Vantoir e Adelaide, todos assumiram uma postura parecida com a mãe. Nada de muitas perguntas. Com o caminhão novo Amâncio começou a ganhar muito dinheiro, fretes de melhor preço eram conseguidos, e a situação começou a tomar proporções diferentes na vida do caminhoneiro pobre da área mais pobre de Minas.
            O lado bom da história estava prestes a ser descoberta, os detalhes de como este dinheiro todo chegou a mão do caminhoneiro não demoraria a ser conhecida por toda a família, um grande drama estava por vir, e teria um alto preço.
            Ao começar a querer ir para o fim da história um cidadão pediu uma porção de ovos de codorna e uma cachaça, tive que esperá-lo para prosseguir com meu relato, percebi que era seu Antão, homem aposentado, que passava quase todos os dias da vida que lhe restavam com os amigos de bar, mas por incrível que pareça ele conseguia manter-se sóbrio e acompanhava com total atenção a minha fala sobre a história de meu amigo.
            O fato de ter conseguido sua mudança de vida com drogas ilícitas começaria naquela noite a pedir contas do que passou. Amâncio pensou que poderia transportar drogas que prejudicariam muitas pessoas sem que ele recebesse alguma punição. Perto da madrugada de um domingo Amâncio ouviu uma voz meio rouca, não familiar, um frio de medo cortou-lhe a respiração.
            A luz do quarto estava escura, ao lado de Amâncio Celeste parecia uma pedra, como o marido viajava muito ela aproveitava as suas chegadas em casa para colocar o amor em seu devido lugar, vocês me entendem né? Os amigos assentiram com a cabeça... Mas voltemos para o motivo do temor de Amâncio. Mais que de repente ,Valdomira, pelo menos era este o nome que a mulher deu, ela era magra, olhos fundos, cabelos desengranzados e um pigarro estarrecedor.
- Tu que é o Amâncio?
Sem saber o que fazer e muito trêmulo ele respondeu que sim.
- Vim te agradecer,” to indo pro” inferno por sua culpa.
Meu amigo não entendeu nada e o vulto sumiu desfazendo-se no ar.
            No outro dia pela manhã, ele nem quis tomar seu café reforçado, sua mulher não entendeu bem o significado daquela atitude, mas sabia que seu marido estava perturbado por algum motivo que ela não entendia. O problema de tudo isto é que o Amâncio era um herói para seus filhos, depois de ter chegado com o caminhão novo tudo mudou, agora ele era um homem de sucesso.
            Outra noite surgiu e desta vez a coisa foi pior, era o segundo dia consecutivo em que as aparições começaram a atormentar o caminhoneiro “sortudo”... Ei tu que é o tal de Amâncio? Olha aí acabei de levar um tiro nas idéias, o pó que tu “transportou” “adiantou” muita gente, mas me desgraçou e eu nem era bandido, eu era o Maicon, alegre e trabalhador agora “to” aqui sem metade da cabeça, detonado!
            Era incrível, mas o cara apareceu pro meu amigo sem a metade da cabeça, o Amâncio ficou desesperado e não sábia mais o que fazer, agora ele tinha certeza que a causa de tudo era o transporte que ele fez, mas Porque os outros que fazem estas coisas parecem não receber nenhum tipo de castigo?
            Maicon desaparece, mas ele não saiu da cabeça do caminhoneiro que agora queria livrar-se das perseguições que invadiam todas as suas noites sem exceção. Um dia depois, um tal de Nevoeiro apareceu no quarto de meu amigo, ele dizia ser um traficante que acabara de levar uma facada no coração. Neste momento Amâncio perguntou dentro de sua própria consciência, se ele era traficante o que eu tenho a ver com isso? Mas o cara estava ali na frente dele. Ele tentou gritar, mas no estado em que estava as palavras não saiam, era como se ele estivesse preso à cama e sua mulher ou qualquer outro mortal não conseguisse ver o que ele estava vendo, o pior de tudo isto, é que eles chegavam um a um, fazendo com que o meu amigo ficasse encurralado. Após ter o contato com um tal de Milton, que morreu de overdose e Dona Mila, mãe de Rodrigo que de tanto sofrer com o filho nas drogas morreu de desgosto. No quarto de Amâncio ela disse em tom sereno:
- Eu morri por causa das drogas, você me ajudou. Obrigado!
            Pensando que este tipo de sofrimento o acompanharia por toda a vida Amâncio ficou pensativo pelo resto da noite, não sabia o que fazer para acabar com aquelas visões, ele pensava que tudo era uma espécie de castigo pelo que ele fez trazendo a encomenda de drogas do norte do país para São Paulo, como alma não tem freio eles iam até Minas para atormentarem meu amigo.
            No outro dia pela manhã, o caminhoneiro proseou com sua patroa:
            - “Ei mulhé?”
            -“Que é home”
            -Aquele pastor da igreja que você vai, que fala com “esprito”
            - Ele não fala com os espíritos, ele expulsa os espíritos!
            - Certo, eu quero falar com ele, e rápido!
            Dona Celeste disse ao seu marido que o pastor ficava atendendo na igreja durante toda a quarta-feira, ele foi até lá e perguntou por ele a esposa, dona Rebeca. Ela disse que ele tinha ido ao mercado e logo chegaria. Ele esperou o pastor Jeremias por vinte minutos.
            - O senhor que é o pastor Jeremias?
            - Sim, pois não!
            Ele parecia um homem bom e confiável, tinha um cavanhaque bem aparado, beirava os cinqüenta anos de idade, seus filhos estavam todos formados, gostava de ler, tudo isto meu amigo me disse baseado no que viu na sala em que se encontrou com aquele homem, que ele pensava, daria solução definitiva para o seu problema.
            - Rebeca! Trás um café para nós! O senhor aceita um bem fresquinho?
            - Sim seu padre, “me desculpa”, pastor.
            Após esta pequena conversa, meu amigo contou tudo o que aconteceu com ele, não escondeu nada, nem sua mulher sabia daquelas coisas. Quando falou das almas penadas começou a chorar compulsivamente.
            - Eu quero me livrar dessas almas pastor, o que faço?
            O pastor respondeu:
            - Em primeiro lugar quem está falando com você de madrugada não são almas penadas. A Bíblia diz que aos homens é dado morrer uma só vez vindo após isto o juízo , isto significa que não são pessoas que estão vindo até você, mas espíritos enganadores que...
            - Mas eles são reais!
            - Eles podem até ter existido de verdade, mas se estão mortos não podem voltar, isto é um grande engano do Diabo, através de seus demônios.
            - Como assim?
            - Quando uma criança nasce, o inimigo de nossas almas (Diabo) encarrega um de seus servos para acabar com a vida dela, enquanto cresce o demônio vai tomando o jeito da pessoa, imita sua forma de agir, seus trejeitos e até suas gírias e crenças, ele é capaz de imitar a pessoa em tudo, assim ele consegue fazer com que pensem que realmente é uma alma que está a frente dela, mas é tudo engano.
            Após esta conversa com meu amigo o pastor deu um conselho para acabar com o sofrimento dele. Para acabar com todas as alucinações ele deveria vender o caminhão e tirar do valor total o lucro que ele teve com as drogas, ou seja, uma faixa de setenta mil reais, pois através do dinheiro que ele faturara, ganhar ficou muito mais fácil. Ele saiu de lá não muito feliz, porém depois de chegar em casa e deparar-se com mais uma “alma penada” não agüentou chamou sua esposa, que era evangélica e contou tudo, como conseguiu o dinheiro, a troca com o irmão sem que ele soubesse, tudo!
            O alívio foi imediato, sua mulher disse que tudo era bom antes do dinheiro sujo ter chegado e que ele poderia se desfazer do excedente e seguir feliz. Com o apoio de dona Celeste, Amâncio vendeu seu caminhão novo no dia seguinte, tirou a parte referente ao valor de seu primeiro caminhão e levou 70 mil reais para um centro de recuperação de drogados. Quando deu o dinheiro Amâncio não titubeou deu logo um pacote com notas de 100 e 50, os olhos de seu Marcelo saltaram, ele era o administrador da Casa Vida Feliz sem Drogas e de tão emocionado chorou.
            Ao voltar para casa Amâncio sentiu ter feito a coisa certa, à noite não teve mais as alucinações de sempre, por incrível que pareça seus filhos entenderam a nobreza da decisão, porém as coisas não eram como antes os fretes sumiram, com a compra de um caminhão velho do mesmo modelo do outro, tudo voltou ao estágio de antes, até mesmo o dinheiro escasseou. O velho patriarca da boléia sentiu o peso da decisão, mas a paz que lhe veio após a decisão valia o prejuízo aparente.
            Vantoir, filho do caminhoneiro, detestava as drogas, mas entendeu o que fez seu pai sucumbir ao canto da sereia do dinheiro fácil das drogas, muitas vezes ele pensou após ouvir o relato através de sua mãe. Será que se tivesse dado tudo certo ele voltaria atrás em sua decisão, isto pensava em relação à revista do veículo, que fez com que seu pai, medroso, nunca mais viesse a pensar em fazer tal besteira, também o fato das alucinações ou aparições contribuíram bastante para que ele agisse da última forma em relação ao dinheiro conseguido a mais, o que importa! Tudo estava resolvido, acreditava ele, sua irmã Adelaide, um pouco mais nova, não pensava muito nas implicações morais do que ocorrera em sua família, fato é senhores que meu grande amigo Amâncio, já não era mais  o mesmo, com tudo o que aconteceu nasceu dentro de si um novo homem, capaz de pensar mais profundamente em tudo, as implicações de pequenas decisões eram ponderadas por ele, mesmo sendo um homem sem muitas profundidades filosóficas.
            Com tudo o que ocorreu, o velho guerreiro das estradas acabou vendendo seu caminhão, o dinheiro serviu para que a mulher abrisse a tão sonhada loja de roupas no bairro onde morava, após a decisão da abertura da loja, a família de Amâncio pode perceber, que somente após o ganho do dinheiro criminoso é que houve  certo progresso na vida da família, pois ninguém estava disposto a pagar o preço tão alto da decisão, que agora, todos sabiam que foi o maior erro da vida de um homem que sempre trilhara pelo caminho reto.
            Um dia quando sua mulher resolveu convidá-lo para ir junto consigo à igreja, para sua surpresa recebeu um grande sim, eu vou! Os dois seguiram juntos e seus dois filhos os acompanharam. Na nave do templo Amâncio começou a chorar compulsivamente, algo estava acontecendo dentro de seu coração, ele já não era nenhum menino, o peso dos anos já despontava em sua vida, embora tivesse acabado de entrar na casa dos sessenta, sua aparência era de um homem mais velho que os documentos, mesmo os mais recentes, seus filhos já lhe deram netos e sua vida parece que chegara à etapa final. Ele sentiu que era o momento de acertar as contas com Deus, afinal, ele foi um cristão que não era dos melhores da terra, sua família toda era católica, mas nunca chegaram a ser muito carismáticos em relação à fé, na igreja de Jeremias ele sentia-se em casa. Na hora em que houve o convite para aceitar a Jesus como único e suficiente salvador ele foi e o resto do peso que lhe pesava nas costas acabou.
            Neste momento alguém gritou no bar:
            - Oh meu isso tá parecendo ladainha cristã!
            - Cala boca seu mal acabado, num tá vendo que ele tá acabando a história?
            Este último que falara era Antônio Cagebrina, sua mulher era crente, e ele não tolerava quem falasse da fé de sua mulher.
            Senhores! Amâncio saiu dali feliz da vida, foi para casa mais leve do que nunca, os negócios de sua mulher estavam indo de vento em popa, ela já tinha experiência de sobra, e Amâncio era o motorista da Kombi que trazia as mercadorias duas vezes por semana de São Paulo a Minas Gerais. Numa noite uns quinze dias após ter feito sua decisão na igreja Amâncio teve uma experiência assustadora, ele estava acordado umas duas horas da manhã, quando apareceu uma tal de dona Mila que disse que não valeu nada o que ele fez; a droga que ele trouxe ainda estava matando, Amâncio olhou bem para a figura e disse:
            - Eu te conheço bem, não vai me enganar de novo você é o diabo e sai de minha casa em nome de Jesus!
            Naquele momento a figura sumiu no ar e explodiu. Dois dias depois meu amigo partiu  para o outro lado, eu penso que ele está  em um lugar bom.


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