Tomé Fragoso é um homem comum ele vive
uma
vida comum e passaria por mais um dos mortais se não fosse um pequeno detalhe,
seu nome é seu guia. Assim como o apóstolo de Cristo, conhecido por sua falta
de fé ele também não acreditava nos homens, por incrível que pareça o único dos
mortais em que ele acreditava era no presidente Lula, talvez por ter sido ele
um operário da indústria automobilística como o famoso presidente. Não existe
explicação para tamanha admiração, mas era assim.
Sofia
Santos Fragoso era o contrário do pai sempre achando que as pessoas são
melhores que as estatísticas, as decepções vinham, não podiam ser evitadas, mas
tinha gente que valia a pena, quando algo dava errado nesta sua maneira de
pensar ela procurava não demonstrar para seu pai e não torná-lo pior do que
era.
Um
fato inusitado ocorreu numa tarde de sábado do mês de março, o celular tocou
dizendo que havia uma promoção, era só teclar a palavra OBA e enviar para um
número indicado, embora o celular não fosse seu, Sofia pegou o aparelho e
enviou o torpedo paro o determinado número. Dois reais e noventa e nove
centavos foram subtraídos, e seu Tomé nem notou.
Dona
Crisálida, mãe e esposa, além de Sofia tinha mais dois filhos, Rafael e
Augusto, ela vivia de forma simples, para ajudar o marido aposentado vendia
salgadinhos para festas e já estava ficando famosa, eles tinham uma casa
própria, mas ainda pagavam as prestações que faltava pouco para terminar.
A
vida comum da família Fragoso iria mudar três meses depois, em junho, num belo
dia, o celular de Tomé tocou, ele nem percebeu, seu aparelho estava num canto
abandonado, quase não era usado, quem o atendeu foi sua filha Sofia, como
sempre, do outro lado uma voz de mulher anunciava uma notícia mais que boa. A
ligação de quase três reais havia sido sorteada e uma casa estava a espera da
família, a moça a princípio não acreditou, mas após os dados da linha serem
falados ela arregalou os olhos e contou a nova para toda a família:
-Meu
Deus... Ganhamos uma caaaaaaaasaaa!
-Que
história é esta menina – Disse dona Crisálida
-Ei mana! É verdade? – perguntou Rafael
-Sim
acabaram de dar os dados da linha, é da operadora
-Já
vi muita gente quebrar a cara com estas coisas, se der os dados eles raqueiam a
conta e levam até a cueca da pessoa – Disse Tomé, o incrédulo.
Para
o chefe da família Fragoso, do céu só desciam tempestades, chuvas fortes,
relâmpagos e sol escaldante. Num determinado momento a alegria transformou-se
em tristeza, dona Crisálida sabia que seu marido não assinaria nada, mesmo que
viesse alguém bem vestido da operadora ele não acreditaria e expulsaria o
enviado ou mesmo não iria ao local indicado para receber a premiação.
-É
minha filha, nossa alegria pode ter um fim, é necessário que o ganhador assine,
tire fotos e tudo o mais, seu pai é o dono do parelho e não vai querer de forma
alguma ir ao local indicado. E agora!
Com
um semblante calmo Sofia disse a segunda melhor das notícias daquele dia:
-Dona
Cris, embora o tel seja do pai ele foi cadastrado em seu nome. Lembra?
-Ah
meu Deus, é verdade... Ganhamos uma casaaaaa! Ai meu Deus que bom!
Ninguém
entendeu nada, seu Tomé e seus filhos estavam na sala e mãe e filha na cozinha.
Agora era só ir ao endereço indicado e levar o aparelho. Mais do que rápido as
duas tomaram todas as providencias para receberem o prêmio. Seu Tomé iria
demonstrar o lado mais sombrio de sua incredulidade nos dias seguintes.
Talvez o maior desgosto da vida da matriarca da família Fragoso veio quando Romão Medeiros chamou seu marido para abrir uma empresa com o valor que a metalúrgica estava oferecendo para quem saísse num acordo negociado para não mandar os funcionários embora e causar constrangimento. Alguns resolveram aceitar a oferta e outros se tornaram donos do próprio negócio. Romão era grande amigo de Tomé, os dois eram corintianos e faziam quase tudo juntos, mas quando seu fiel amigo o convidou para fazer parte de um negócio e ele não aceitou a segunda opção para o convite foi a decisão mais acertada. Após aceitar a sociedade Victor Pedreira estava tornando-se um milionário, eles abriram um empresa de Buffet infantil e expandiram-se por toda a região e Tomé, como sempre não acreditou.
Desta vez a coisa deu certo e, já possuidoras do crédito para adquirir a casa nova, mãe e filha demoraram exatamente uma semana para concretizar a negociação e compraram uma casa linda, toda legalizada e mudaram-se logo após, para melhorar a situação o novo Lar foi entregue mobiliado, coisa fina!
A casa antiga foi alugada por um valor quase simbólico e todos estavam felizes com o novo ambiente menos o senhor Tomé, ele acordava no meio da noite e parecia ter sonhos terríveis com o que ninguém sabe bem.
Passaram-se um ano após a mudança repentina de vida quando num triste dia o senhor Tomé, já com os seus 67 anos de idade teve um mal súbito e passou desta pra melhor, seus amigos de empresa foram convidados, seus parentes ainda vivos vieram para a ocasião e o corpo foi velado no Sindicato dos Metalúrgicos da qual era sócio e, diga-se de passagem, quase um fundador. O enterro aconteceu em São Bernardo às 16 horas e após toda a liturgia comum aos enterros restou apenas a família voltando para casa, os filhos do casal não eram tão velhos, talvez porque seu Tomé só se casou após os trinta e cinco anos, demorou para ele acreditar numa mulher, dona Crisálida foi noiva antes de conhecê-lo e foi abandonada pelo noivo que a deixou por outro homem, coisa absurda em sua época, assim os dois demoraram a namorar e depois de cinco anos de namoro e mais três de noivado finalmente se casaram.
Ao revirar as coisas do pai Rafael deparou-se com um caderno, um cartão bancário e um aviso: Tenho medo que tudo isto não passe de uma enganação, estou depositando mil reais todo o mês no banco se cobrarem mais que isso pelo aluguel desta casa em que moramos eis aí o telefone do Dr. Vilela, já o deixei ciente de toda a situação, não vão envergonhar nossa família.
Ninguém queria acreditar ele depositou 12 mil reais no banco pensando que a casa comprada, registrada, cartoriada e todos os adas da vida era uma farsa. Tomé morreu sem acreditar que algo bom poderia acontecer na vida de um cristão.
Fim
Autor Haroldo Ribeiro
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