Acordar cedo, ouvir a emissora de rádio local
, apressar-se em tomar o café da manhã e ir às ruas da cidade para ganhar o pão de cada dia. Assim é a vida de Savio, um amazonense pouco letrado, mas que consegue ganhar o pão e sustentar os seus quatro filhos com Janeleide, uma paixão juvenil que se transformou em algo maior sendo coroado com a chegada de quatro brasileiros que ao fim do ano transformar-se-ão em cinco.
Sávio vende produtos da Bolívia nas ruas da cidade, tem ponto fixo e já ganhou algum dinheiro negociando quinquilharias. Na sua barraca pode se encontrar de tudo: rádios, relógios, carteiras, bolsas, fones de ouvido, mochila de escola, enfim, tudo o que for de novidade na área.
Todos os dias vai almoçar em casa, mas como está esperando uma encomenda de Porto Velho resolveu ficar num local não muito distante da barraca. Encomendou um marmitex (comida pronta entregue em recipiente de alumínio). Devorou-a com avidez e apressadamente dormiu como faz todos os dias em sua casa por pelo menos quarenta e cinco minutos sendo acordado sempre por Jane como chama carinhosamente a mulher de sua vida, depois do sono reparador aproveita para se perder em seus braços e assim aumentar a família em gemidos tarde afora.
Nesta quarta-feira uma mão mais áspera e contundente o chamou, meio sonolento respondeu:
- Já vô Jane !
- Que Jane rapaz! Acorda maninho, tem gente roubando tua barraca!
Saltou da rede com tudo e correu em direção ao seu empreendimento e surpreendeu o bandido conhecido como Pupunha, agarrando-o por trás, neste momento já ajudado por seus amigos de profissão que chamaram a polícia.
Não havia como negar, os relógios ainda estavam próximos do meliante, dez no total, mercadoria barata, vinte e cinco Reais cada que com certeza seriam trocados por algumas pedras de craque, mal que já aponta por aqui, consumindo nossa juventude. Bandido preso, vida normalizada.
Sávio chega em casa com a nova e é envolvido ainda mais calorosamente nos braços de Jane , ela por vezes o leva às nuvens. Os meninos pedem bombons que não falham.
A barraca guardada com cadeados é móvel e fica numa casa próxima ao local de trabalho. Sávio não paga nada, mas de vez em quando dá uns mimos para os filhos da dona da casa como forma de gratidão. No fim da tarde, a única rua de movimento fica solitária. “Filhinhos de papai” empinam suas motos baratas e gritam freneticamente.
Na cadeia Pupunha tenta negar tudo, mas não adianta, a porta range anunciando a chegada de mais um hóspede. – A casa caiu mano! Um empurrão do policial joga o meliante dentro de seu lar proclamando muitos dias ao lado de gente que não presta, iguais a ele.
Sávio assiste o Jornal Nacional ao lado de sua Jane e seus quatro filhos, Vidinha se encosta ao seu peito e já dorme. Não há muita coisa a se fazer, crianças dormindo, chuva caindo e Jane gemendo.
Haroldo Ribeiro
www.amazontime.com
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