Pessoas misturadas com compras
empilhadas
num caminhão já surrado de tanta lama e buracos, gente que enfrenta
oito, nove até dez horas ou mais em cima de um caminhão que balança de um lado
para o outro, eles vão para Realidade, uma lugar esquecido por Humaitá, Amazonas e pelo
Brasil.
O
local conta com mais de mil habitantes e tem até energia elétrica, um benefício
do Governo Federal que trouxe alento para aqueles que viviam como nos
tempos das cavernas. A estrada é o principal problema daquela gente sofrida,
quando chega o período chuvoso ela fica praticamente intransitável. Uma das
empresas que fazia a linha para o local, a Matupi Turismo, teve que abandonar a
viagem por um tempo, pois um de seus ônibus teve o motor severamente danificado.
Não é possível colocar um veículo novo para fazer a linha, o que enfrenta a
lama tem o eixo aumentado para não sucumbir nos atoleiros que são verdadeiras
crateras de lama.
Um
trator fica no meio do caminho e chega a cobrar até 400 reais para tirar um
veículo da lama, é pagar ou ficar atolado por dias. A estrada foi licitada pelo
governo federal, mas as empresas que deveriam dar manutenção só fazem piorar
ainda mais o sofrimento daquela gente. Sacos de cimento foram mandados para
fazer a pista ficar um pouco melhor, mas eles desapareceram e nada foi feito. Se
alguém quiser vir de lá para a cidade tem que implorar a algum filho de Deus
que o traga na carroceria do caminhão.
Assim o povo da Realidade viaja em tempos de
chuva, com lama nas roupas, com poeira nos olhos e com tristeza no coração,
sentindo-se rejeitado como filho de um Brasil excludente.
Haroldo Ribeiro
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É assim que funciona em vários lugares do nosso Amazonas, é uma pena o governo federal achar que Brasil só é a região centro-oeste e sul. Enquanto isso ficamos a mercêr do tempo.
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